• 25 maio

    Trinidad e Tobago

    Último pôr do sol em mar aberto

    Foi o tempo de o avião decolar e eu já estava no barco levantando a âncora para começar a descer para Trinidad. Mesmo porque o tempo já estava pra mudar e eu não queria ficar preso em Union Island por mais uma semana.

    Em dezembro houve alguns casos de pirataria perto da costa de Trinidad, e o conselho de todos era navegar com todas as luzes apagadas, chegar bem cedinho, e de preferência domingo ou segunda, que são os dias que os vagabundos estão de ressaca do fim de semana e não costumam “trabalhar”. Fiz as contas e decidi sair logo em seguida que eles foram embora.

    Saí às 17:00 na sexta-feira. Minha intenção era fazer uma parada em Grenada para descansar e aproveitar para mergulhar nas estátuas submersas, muito famosas no mundo todo. Sair até às dez da manhã de Grenada no sábado e chegar às seis da manhã de domingo em Trinidad.

    E graças a Deus deu tudo certinho, mar bom, sol, noite de lua cheia, céu limpo……. e sem piratas! Às quatro da madrugada já estava jogando âncora na baía de Chaguaramus, em Trinidad.

    Em Trinidad não tem o que fazer a não ser preparar os barcos para irem navegar ou para deixá-los em terra para poder cada um voltar para seu país. As duas principais marinas têm toda infraestrutura para qualquer tipo de concerto e o preço mais barato de todo Caribe.

    Com o barco já fora da água começaram os preparativos para poder voltar. E como tem coisa para fazer! E não é simples como fechar a porta de uma casa e ir embora. A lista era interminável, e sozinho as coisas complicam. Por sorte ainda estavam em Trinidad o Agustin e a Simone do veleiro Huaiqui que me ajudaram bastante e ainda conheci muitos outros que também viriam me ajudar mais para frente, até mesmo depois que voltei. Como a Marli e o Luis do Green Nomad, o Nicolas e a Maite do catamarã Louro (que por incrível coincidência foram nossos vizinhos por mais de um mês em Ibiza e não havíamos nos conhecido), a brasileira Cristiane casada com o norueguês Marius do veleiro Madrugada e o Carlos, skipper de um lindo veleiro Swan. Foram duas semanas, apesar de todo trabalho num calor insuportável, muito legais. Com bastante papo jogado fora e até um churrasco com picanha rolou numa noite muito agradável com os novos amigos.

    Com o barco pronto para ficar invernado por um longo período, já não me restava nada a fazer do que voltar para casa e rever filhos, esposa, pais, irmãos, família, amigos, funcionários, negócios, enfim, voltar à vida de um cidadão comum.

    E no último dia 6 de março, depois de onze meses vivendo no mar, voltei a dormir numa casa outra vez.

     

    Gostaria de agradecer a todos aqueles que nos acompanharam nesse período e que de alguma forma sempre nos apoiaram e rezaram para que tudo desse certo. Aqueles que nos ajudaram com qualquer forma de patrocínio como, Actmob, Dewa, Fastball e Bandeirart. Aos meus pais que ficaram aqui com o coração na mão mas sempre nos apoiaram. Aos meus irmãos, André e Gustavo, e aos amigos Rafael e Marquinho que me ajudaram a cruzar o Atlântico. E ao meu sócio e a todos meus funcionários que permitiram que eu pudesse ficar fora por um ano. Meu muito obrigado!

     

  • 25 maio

    Caribe

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    Nossa temporada no Caribe foi bem curta comparando com os outros barcos que ficam por lá até o fim de maio, quando o tempo já começa a ficar mais esquisito com a chegada dos ventos fortes e às vezes, de furacões.

    Mas nem por isso deixou de ser uma experiência incrível. Apesar de termos nos decepcionados com o Caribe, pela pobreza, pelos preços altíssimos, pelo mal humor das pessoas, por ter que pagar por tudo, etc…., passamos momentos muito felizes ao lado de amigos e família que foram nos visitar. Além de novos amigos, brasileiros, espanhóis, noruegueses, que fizemos nas últimas semanas.

    Saímos de Grenada no dia 5 de janeiro, nós quatro mais a família do nosso compadre, amigo e sócio. Era a primeira vez que o Renan e a Marina tinham companhia de outras crianças a bordo, os gêmeos Gabi e Filipe, que tem a mesma idade da Marina. Imaginem quatro crianças juntas num barco!! Desde as sete da manhã até o fim da noite tocavam o terror o dia inteiro. Uma alegria só! Se divertiram o tempo todo. Com eles fomos subindo as ilhas, passando por Sandy Island, Union Island, Tobago Cays, Bequia, St Vincent, Santa Lucia, até chegar em Martinica. De lá eles voltaram para o Brasil e nós ficamos esperando meus pais que chegariam dia 23 de janeiro, em Martinica.

    Aqui abro um parágrafo para falar sobre a vinda do meu pai para passar quinze dias com a gente a bordo. Um mês antes de nossa viagem começar, em março de 2015, meu pai passou por uma cirurgia para retirada de um tumor. Assim que ele voltou para casa no final de março, nós embarcamos para Grécia para começar a viagem e ele começar a recuperação de uma grande cirurgia. Não foi fácil ficar longe dele e da família no período mais importante de nossas vidas, mas como na vida tudo tem um preço…. Não tivemos escolha. Foi um ano bastante difícil para ele, uma recuperação muito demorada e aquela incerteza de como seria daqui pra frente. E assim foi o ano todo, sem saber se ele poderia vir com a minha mãe para curtir um pouco dessa vida diferente, conhecer lugares que jamais iria se não fosse de barco, e o melhor, a gente se rever depois de quase um ano, e que ano!

    E Graças à Deus, como já estava um pouco mais forte, se superou e viajou para Martinica no meio de janeiro com minha mãe. E mesmo com suas dificuldades, nunca reclamou de nada e curtiu aquela que seria talvez, a maior experiência de sua vida! Navegar pelas ilhas do Caribe não é para qualquer um, ainda mais para eles com 71 e 67 anos. Em alguns dias o vento estava bastante forte e o mar bastante mexido, mesmo assim nunca reclamaram ou tiveram medo. Parabéns aos dois que se superaram e curtiram muito toda a viagem. E eu só tenho a agradecer a eles por essa visita mais que esperada. E foi assim, que no dia 23 de janeiro na praça central de Martinica, enquanto eu esperava ansioso algum táxi chegar com eles, escuto aquele assobio que conheço há mais de 40 anos. Aí não tive dúvida, eles chegaram!

    Voltando para nossa viagem, a dúvida era se continuávamos subindo para o norte ou se descíamos tudo outra vez para que eles pudessem conhecer Tobago Cays, o único lugar que realmente valeu a pena dentro do que vimos. Bom, esperamos eles chegarem e decidimos descer novamente e ficar pelas Grenadines até o final, já que nas duas vezes que passamos por lá foi bastante rápido e assim teríamos tempo para conhecer bem o que o Caribe tem de melhor. Mas antes de começar a descer fomos até St Pierre, ao norte de Martinica, a cidade que foi destruída pela erupção do Monte Pelée em 1902. A erupção matou toda população da cidade, mais de nove mil pessoas. E o único sobrevivente, por ironia do destino, foi um preso que estava na solitária.

    Depois de passar por todas as ilhas novamente, vimos que tínhamos tomado a decisão certa. No dia em que chegamos em Tobago Cays o vento parou totalmente, uma coisa muito difícil de acontecer por lá. E a água azul que já é transparente nos dias normais, ficou parecendo um vidro! O barco parecia estar flutuando no ar. Indescritível. Esse dia ainda era aniversário de sete anos do Renan, com direito a bolo e bexigas e um pôr do sol único!! Realmente foi um dia pra ficar na memória para sempre.

    Com tristeza nos despedimos dos meus pais em Union Island no dia 6 de fevereiro, que de lá voltariam para casa. Mas logo dois dias depois, na mesma ilha, já esperávamos a chegada do meu tio Paulo Henrique com sua esposa Júlia, e mais um casal de amigos, o João e a Adriana. Com eles fomos a Petit St Vincent e voltamos a Tobago Cays para mais “duas” noites de banquete de lagostas com o nosso amigo Taffa. Eles gostaram tanto que quiseram repetir no dia seguinte! Sorte do capitão, que não paga quando leva mais “turistas”!! Assim por cinco vezes comi lagostas gigantes pagando apenas a primeira vez. Bom demais!

    Na sexta-feira, dia 12 de fevereiro voltamos a Union Island para que eles pudessem pegar o ferry de volta a St Vincent e voar para o Brasil. E de lá, uma semana depois, a Dani com as crianças também voariam para casa.

    No dia seguinte fomos para Chatham Bay, uma baía linda e tranquila atrás de Union Island, para aproveitar juntos a última semana dessa primeira, ou talvez, a última etapa da nossa viagem. Nessa baía conhecemos o Fábio e a Mariana do veleiro Argos, e o casal Éder e a Edna do veleiro Piatã. Muito bom encontrar brasileiros longe de casa.

    O Fábio, mergulhando durante a tarde achou uma toca com cinco lagostas! Dei a ideia de voltarmos a noite até a toca (já que não se pode caçar em nenhum lugar do Caribe) para o último banquete de lagostas! Tudo bem que eram bem pequenas, mas o sabor era até melhor que o das grandes.

    Depois de uma semana maravilhosa de despedida, no dia 19, outra vez com dor no coração, vi aquele minúsculo avião levar eles embora e eu ficar sozinho mais uma vez. Só que desta vez teria que navegar sozinho até Trinidad, onde iria tirar o barco da água e poder voltar para casa também.

     

  • 29 dez

    Travessia do Atlântico

    Almoço garantido!

    Finalmente na terceira semana de novembro começou a chegar a tripulação do Manga Rosa que iria fazer a travessia comigo. No total seríamos cinco, meus dois irmãos, André e Gustavo, meu sócio e amigo Marcos, o amigo de regatas Rafael, e eu.

    No dia vinte e um de novembro, depois de fazer todas as compras, armazená-las no barco e fazer o último churrasco de despedida com nossos amigos alemães, Reh e Guti, saímos para Tenerife. Lá iríamos esperar pelo Rafael que não tinha conseguido chegar antes da nossa partida de Lanzarote, e assim também já conheceríamos mais uma ilha das Canárias. Tivemos dois dias em Tenerife para fazer as últimas compras e conhecer um pouco da ilha. Fomos ao vulcão Teide, com 3718 metros de altura, o ponto mais alto da Espanha. Uma vista incrível, mas eu mesmo não aguentei nem cinco minutos lá em cima, o frio e o vento era de doer.

    Nosso último tripulante, o Rafael, chegou no dia 24. E como ele e o Marquinho tinham um vôo de volta para o Brasil no dia 13 de dezembro saindo de Barbados, não tínhamos muito tempo a perder. Então no dia seguinte, 25 de novembro, depois de muita ansiedade, finalmente soltamos as amarras para cruzar um oceano pela primeira vez.

    Todos os guias náuticos das Canárias mostram que nas pontas das ilhas o vento pode aumentar em dez nós para mais. E isso pudemos conferir que era verdade logo na primeira noite. Saímos às 15 horas e quando começou a escurecer já estávamos na ponta de Tenerife. Vínhamos velejando com ventos de 25 nós de popa e quando a ilha começou a acabar o vento subiu para 35 nós, com rajadas de 40 e ondas com mais de 3 metros!! Foi para deixar a tripulação esperta logo nas primeiras horas. Enrolamos a genoa (a vela da frente), colocamos a vela grande no terceiro rizo e o barco continuava a surfar as ondas a 17 nós!!! Serviu também para que todos confiassem mais no barco, pois mesmo com essas ondas e nessa velocidade o barco continuou muito seguro. Essa foi a única hora de tempo ruim em toda travessia, depois disso foram 16 dias de sol, mar azul, ventos de 20 nós pela popa e o barco velejando a 10 nós. Pescarias, culinárias, conversas de todos os temas no café da tarde, nadamos com golfinhos na proa do barco, sem internet, sem whatsapp, etc…. Uma paz difícil de explicar.

    O “stress”só voltou no fim da última semana! Com dois dias de calmaria no segundo e terceiro dia de travessia, o Rafa e o Marquinho já tinham dado por vencidos e sabiam que perderiam o vôo do dia 13. Mas como o barco começou a andar muito depois, as chances de chegarmos até a data do vôo começaram a aumentar outra vez. Íamos pegando as previsões do tempo pelo telefone via satélite com nossos amigos Pedrão e o Dimitri, que estavam no Brasil, e nos acompanhando o tempo todo. E mesmo com as previsões passadas por eles não dava para saber se iríamos chegar a tempo ou não. E nisso o “stress” ia aumentando já que eles teriam que cancelar o vôo até duas horas antes.

    Ninguém queria apostar se chegaríamos ou não. E por incrível que pareça, depois de 17 dias e meio de travessia, jogamos âncora em Barbados às 5:30 da manhã do dia 13 de dezembro, quatro horas antes do vôo dos dois para o Brasil. Mas ainda tínhamos que descer, ir até o porto, fazer imigração de todos, e eles teriam que chegar no aeroporto duas horas antes do vôo. Não deu tempo nem de comemorar nossa primeira travessia oceânica e já colocamos o bote na água para poder ir à terra. Claro que nessa hora, o motor que estava parado há 3 meses, não funcionou! Os dois iam remando desesperados e eu tentando fazer o bicho ressuscitar.

    Para encurtar a história, fui quase preso na imigração pois eu não poderia ter descido com os dois e as malas sem passar pela alfândega. Depois de uma correria tremenda para preencher todos aqueles formulários que irão ficar engavetados pelo resto da vida e não servem para nada, eles entraram no táxi e às 7:30 estavam no aeroporto. Bem, eu? Eu ainda tomei um chá de cadeira na imigração, mas no fim me deixaram voltar para barco onde estavam meus dois irmãos me esperando.

    Nesse dia em que os dois desceram, subiram a bordo outros dois amigos que já estavam nos esperando em Barbados para passar uma semana no Caribe com a gente, o André e o Murilo. Ou seja, chegamos em Barbados depois de 17 dias e a tarde já estávamos levantando âncora outra vez para seguir para Bequia, 80 milhas à oeste, já próximo a Tobago Cays, a jóia do Caribe e nossa meta nessa semana.

    Na manhã seguinte já estávamos ancorados em Porto Elizabeth, em Bequia. Apesar de ser uma ilha bastante pequena, há bastante serviços para barcos e já aproveitamos para arrumar alguns detalhes que quebraram na travessia e também o motor do bote. Nesse dia aproveitamos para descansar de verdade, dormir sem balançar e sem fazer turnos na madrugada depois de 18 dias, que prazer!

    Como meus irmãos e nossos amigos tinham apenas 6 dias para navegarem pelo Caribe antes de voltarem para casa, saímos cedo de Bequia para termos mais tempo em Tobago Cays. E foi só ancorar e mergulhar para descobrir porque aquele lugar é incrível. Tartarugas ao monte, arraias, lagostas, conchas gigantes, e até um tubarão meu irmão disse que viu! Aí vai de cada um acreditar ou não, eu ainda tenho minhas dúvidas.

    Logo que chegamos, um cara veio nos oferecer um jantar de lagostas na praia por 45 dólares cada um, bastante caro para nós que ganhamos em real e não estamos no melhor momento para fazer esse câmbio. Mas foi só o cara abrir o isopor e mostrar as lagostas gigantes ainda vivas no botinho dele, que nós cinco já começamos a salivar e nem pensamos no preço: fechado!! Lagosta para o jantar!

    Às 19 horas estávamos a postos com garfos, facas e principalmente as mãos, prontos para uma noite de puro exagero gastronômico. Comemos lagostas até não aguentar mais. Se pensar que se fosse no Brasil seria o dobro do preço, até que saiu barato!

    Passamos o dia seguinte inteiro em Tobago Cays mergulhando e explorando as outras ilhas que cercam os recifes. Uma imagem mais incrível que a outra.

    No dia 17 de dezembro começamos a descer para chegar em Grenada até o dia seguinte, onde eles pegariam o vôo para Barbados e eu esperaria pela Dani e as crianças que estavam chegando para me encontrar depois de quase dois meses.

    Antes de chegar em Grenada paramos uma noite em Carriacou para encontrar um casal de velhos amigos de Paraty, o Agustin e a Simone do veleiro Huaiqui. Depois de sonharmos por muito tempo juntos, aqui estávamos nós, eles subindo do Brasil e nós chegando da Europa. Cada um com seu barco em pleno Caribe e combinando de passar o Natal e Ano Novo juntos em alguma ancoragem de Grenada. Sonho realizado para ambos!

    No fim da tarde do dia 18 de dezembro encostamos no pier da Prickly Marina em Grenada. Ali com bastante dor me despedi dos meus irmãos, que já estavam comigo há mais de um mês, e dos meus amigos André e Murilo. Pela primeira vez iria passar o Natal longe deles e dos meus pais, mas tudo na vida tem um preço, e às vezes não é barato.

    A recompensa veio depois de dois dias quando chegaram a Dani, o Renan e a Marina de volta para o barco. Que alegria sentir o cheiro deles novamente, os choros, as brigas, risadas e tudo que existe numa família normal.

    Aqui em Grenada vamos passar as festas de fim de ano e esperar pela chegada do meu sócio, que desta vez vem com a família toda para passar duas semanas pelas ilhas do Caribe com a gente.

     

     

     

     

     

     

     

     

  • 26 out

    Ilhas Graciosa e Lanzarote

    Logo na chegada, ainda quando amarrávamos o barco no píer da marina na Graciosa, passa um alemão e pergunta num perfeito português: “Estão vindo de onde? Parece que estão chegando de uma velejada em São Sebastião!” O alemão era o Reh, morou no Brasil por oito anos na década de 70 e 80. Casado com a Guti, moram no veleiro Asante, de 36 pés há 11 anos. Só pode ser Deus que coloca essas pessoas no meu caminho. Além de ótimos amigos e excelente cozinheiro, Reh é instrutor de vela, sabe tudo e mais um pouco. Me ensinou muitas coisas e ajudou no que foi preciso pra deixar o barco pronto para a travessia para o Caribe. Encomendando peças da Alemanha, costurando cabos, arrumando tudo o que via pela frente! Espero um dia ter a chance de poder retribuir tanta gentileza. E assim passamos o primeiro mês na Graciosa, entre muitas arrumações, degustações e conversa jogada fora.

    No cardápio do Reh tivemos feijoada (digna de um brasileiro), camarão na moranga, sopa do que sobrou da moranga, churrasco de maminha, salada de grão de bico marroquina, etc…. Não foi a toa que recuperamos todos os kilos perdidos na travessia, e ganhamos outros mais.

    Nossos amigos foram embora para a marina de Lanzarote onde ficarão o próximo mês. Nós decidimos ficar aqui na Graciosa, apesar de não ter nada, por vários motivos. Primeiro que é a marina mais barata de toda Canarias. Aqui não existe tantos lugares para ficar ancorado e o tempo anda meio maluco. A próxima marina barata e muito boa seria em Las Palmas, na ilha de Gran Canaria. Mas existe uma regata com mais de 200 barcos, que sai todos os anos de Las Palmas e vai até o Caribe. E não há vagas para outros barcos até o dia da largada que, nesse ano, é somente dia 22 de novembro. E pra falar a verdade, eu prefiro ficar aqui mesmo. A Graciosa tem apenas 600 habitantes, todas ruas de terra, dois mercadinhos, uns cinco restaurantes e uma mini padaria com uns pães incríveis. E tudo isso a menos de dois minutos a pé. Pra muitos pode ser difícil de se acostumar, mas a oportunidade de ficar num lugar desses por dois meses não tem preço.

    Na parte de trás da ilha, que fica para o mar aberto, tem a praia mais bonita da ilha, a Playa de las Conchas. E também a mais perigosa pelas suas ondas que quebram com toda força bem no raso. A água é de um azul incrível. A ilha tem mais umas três praias, uns três vulcões desativados e é só! Subimos até o topo de uma montanha para tirar fotos e depois até o topo de um dos vulcões. O Renan mostrou ter uma resistência invejável pra caminhada e subida. Foi sem reclamar até o topo as duas vezes, e quando eu já não aguentava mais subir, ele ainda dizia: vamos subir até ali agora?” Como não subir? E lá íamos nós um pouco mais para cima. E antes de descer todo o vulcão ainda descemos até o centro da cratera. Um silêncio que chega a incomodar. Lugar isolado, ninguém por perto, um buraco gigante. Uma experiência muito legal.

    Ainda quando meu irmão e minha cunhada estavam aqui, fomos até Lanzarote de ferry e alugamos um carro para conhecer a ilha toda. Existe um vale cheio de vulcões, o Parque Timanfaya, que vale a visita. Também fomos até o sul da ilha pra ver a tal da Laguna Verde, uma das imagens mais exóticas que já vi. O contraste do azul do mar, a espuma branca das ondas, a areia preta e a lagoa verde, tudo num só lugar, incrível!

    Bom, daqui a Dani e as crianças voltam para o Brasil. Eu espero meus dois irmãos e mais um amigo chegarem para a maior de todas as travessias. Devemos zarpar perto do dia 25 de novembro. Serão três mil milhas até o Caribe. Duas semanas vendo só água. Se der tudo certo, o próximo post será de uma das ilhas caribenhas.

    Para quem quiser acompanhar a nossa travessia, é só entrar aqui no blog e ir em “onde estamos”. Duas vezes por dia vamos mandar um sinal que marca nossa posicão exata no mapa.

    Boa sorte e bons ventos pra gente!

     

  • 26 out

    Travessia até as Canárias

    Não há muito o que contar sobre alguns dias no mar quando o tempo é bom. Por termos estudado bastante a previsão para os próximos dias e ter saído na hora certa, não tivemos problema nenhum e foram quase seis dias de uma velejada incrível. Com vento sempre a favor. É bem verdade que logo na saída uma dessas tempestades passageiras nos pegou em cheio, mas foi só para nos molhar e acalmar as ondas.

    Depois de um dia fizemos uma parada super rápida na marina em Almerimar para reabastecer de diesel, já que sabíamos que até chegar no Atlântico seria sem vento algum e teria que ser mesmo no motor as próximas 24 horas.

    Às seis horas da manhã do segundo dia chegamos na entrada do estreito. Uma neblina chegou do nada e não víamos um palmo à nossa frente. Sempre nessas horas! Vários navios ancorados, alguns saindo do porto, outros entrando, barcos de pesca, etc….. Diminuimos bastante a velocidade e fomos entrando bem devagar, até que a neblina dissipou e deu pra ver a ponta de Gibraltar, um rochedo enorme. Incrível! Gibraltar é um território britânico mas que se localiza bem no extremo sul da Espanha. De um lado a Europa e do outro a Africa, bastante próximos um continente do outro.

    Duas horas depois entramos no mar aberto, finalmente o Oceano Atlântico. A partir daí foi descer ladeira abaixo até as Canárias. Agora para os velejadores; no começo o vento veio de través, uma maravilha. O barco andava a 8 nós com um vento aparente de 12. Depois foi virando para alheta até que ficou bem empopado. Para um veleiro seria um pouco incomodo, mas para um catamarã foi super tranquilo. O único problema é que perdemos bastante área vélica já que tivemos que enrolar um pouco a genoa, pois uma atrapalhava a outra. Ainda conseguimos por bastante tempo velejar com uma vela para cada lado, mas quando o vento caiu um pouco já não deu mais. Mesmo com apenas uma vela velejamos a 12, 13 nós na surfada das ondas. Faltando meio dia para chegar, ainda tívemos que ir diminuindo pano até tirar todas as velas para não chegar à noite. Enfim, depois de cinco dias e meio super tranquilos, chegamos na Ilha Graciosa. A primeira ilha das Canárias pra quem chega vindo do norte.

    As imagens ficam por conta do sol, que fez pose duas vezes por dia para as fotos.

     

  • 26 out

    Dois meses de Ibiza

    Finalmente volto a escrever depois de 3 meses sem dar as caras. O que aconteceu foi que ficamos sem 220V no barco, e para carregar o computador ficou difícil. E quando conseguia carregar era para dar aula para as crianças ou para eles assistirem desenhos. Ou seja, o blog foi ficando pra depois, depois, depois…..

    Bom, ficamos em Ibiza por quase dois meses esperando meu irmão Gustavo e minha cunhada Andressa chegarem. Ele vinha para me ajudar a levar o barco até as Canárias, e ela para passear com a Dani e as crianças por aí enquanto nós estivéssemos no mar.

    Nesse tempo não aconteceu muita coisa. Ficamos levando a vida como moradores da ilha e aproveitando a água quente da baía de Talamanca. A semana mais legal foi quando soube que tinha uns amigos de Mogi em Ibiza. Isaía, seu filho Gabriel, o Magrão e o amigo Jaime tinham ido até Ibiza para ver o Dj David Guetta. Foi uma semana super legal e diferente para nós. Passamos bastante tempo juntos e pudemos aproveitar um pouco das regalias do hotel Hard Rock, onde estavam hospedados. Um show a parte. Pelo Isaía soubemos que tinha um mogiano fazendo shows pelos bares de Ibiza e pudemos assistí-los no bar da cobertura do hotel. Que noite maravilhosa! Só tenho que agradecer à todos eles pela agradável companhia nesses dias.

    No fim de agosto o tempo pelas Baleares começou a ficar bastante esquisito, o outono já estava chegando e era hora de zarpar dessas latitudes. Por fim no dia primeiro de setembro meu irmão e minha cunhada chegaram. Foi o tempo de dar uma voltinha pela ilha para que eles conhecessem, ir até Formentera, e rumar para Cartagena, já na costa da Espanha. Lá as meninas e as crianças desceriam e voariam para as Canárias, evitando seis dias de mar. Como a mãe da Andressa mora na Suiça, não pensaram duas vezes. Antes de irem nos encontrar visitariam um novo lugar, não pagariam hotel e ainda a Andressa visitaria a mãe, tudo certo!

    Depois de vinte horas de travessia, uma noite cheia de ráios e céu escuro, chegamos em Cartagena. A marina fica em frente a rua principal, ficamos praticamente estacionados na calçada. Isso facilitou para que conhecessemos um pouco da cidade já que tínhamos pouco tempo por lá.

    Tenho que abrir um parenteses aqui! Enquanto eu escrevia passou um gato do meu lado aqui dentro do barco! Que cara de pau! Por onde esse fdp entrou!

    Voltando. Dois dias depois, no dia 7 de setembro, aniversário do meu irmão, saímos para nossa primeira travessia de verdade. Seriam 830 milhas, dois dias no Mediterrâneo até passar pelo Estreito de Gibraltar, e mais uns três dias no Atlântico até chegar nas Ilhas Canárias. As Canárias é um arquipélado espanhol onde as primeiras ilhas ficam apenas 50 milhas da costa da África.

    O relato e as fotos da travessia ficam para o próximo post.

     

  • 25 jul

    Baleares

    Dona Irene

    Cinco ilhas na costa da Espanha formam as Baleares: Menorca, Maiorca, Cabrera, Formentera e a badalada Ibiza. Cabrera é uma pequena ilha ao sul de Maiorca, a única que não fomos.

    Apesar de no último mês estarmos visitando cada ilha dessas, uma ancoragem mais linda do que a outra, o destaque foi outro.

    Nesse mês o destaque vai para minha sogra, que a beira de seus 80 anos ficou no barco durante um mês! Subiu e desceu do bote não sei quantas vezes, tomou banho de chuveirinho, balançou muito para dormir em algumas noites, velejou durante uma noite inteira com vento contra entre Maiorca e Ibiza, passou muito calor, andou muito no mesmo calor, e o melhor…..sem reclamar uma só vez! Sei que ela nunca reclamaria de algo mesmo não aguentando mais, mas isso não interessa. Não reclamou de nada e curtiu os netos e a filha por um mês. Além de ter conhecido e visitado lugares lindos. Deus que me dê saúde e possa ter uma experiência incrível, em que nunca imaginei fazer, aos meus 80 anos! Parabéns Dona Irene!

    Bom, começamos pela ilha de Menorca já que estávamos vindo da Sardenha e essa seria a primeira ilha. Chegamos na sexta à tarde e tivemos dois dias pra preparar e arrumar o barco para a chegada das três, minha sogra Irene, minha cunhada Márcia e minha sobrinha, a Bia.

    Menorca é a ilha menos visitada pelos turistas mas por isso não deixa de ter seu charme. Lá ficamos na cidadizinha de Mahón por quatro dias. No sábado antes da chegada delas conhecemos o mercado de peixes, muito agradável. Que além da venda de peixes, tem vários balcões vendendo todos os tipos de tapas e cerveja! Ainda estava tendo um som ao vivo com uma banda muito boa pra completar o astral.

    No domingo à noite, depois de terem visitado Andorra e Barcelona, as três chegaram no barco para alegria das crianças e nossa também, é claro. Ter família por perto sempre é ótimo. Agora eram quatro mulheres, uma de 20, uma de 40, uma de 50, outra de 80, duas crianças e eu!!

    Na manhã seguinte já saímos para que elas pudessem conhecer o centrinho da cidade. Imaginem essas mulheres com mil lojinhas ao redor! Não vou mentir, aguentei apenas 30 minutos e na terceira loja que entraram e não saíram mais, joguei a toalha e fui para o Mercado de Peixes tomar cerveja e comer tapas.

    Na terça feira, depois de terem batido bastante perna por Mahón, saímos e seguimos em direção a Maiorca. No caminho ainda paramos para dormir nas praias de Son Bou e Son Saura antes de percorrer as poucas milhas que separam as duas ilhas.

    A travessia foi super tranquila e bastante rápida, já que escolhemos uma rota mais curta para que elas não sofressem tanto logo no começo. Paramos para passar o resto do dia e a noite na baía de Es Caló. Um lugar super deserto e tranquilo, durante o dia! Pois a noite entrou um vento forte na ancoragem com rajadas de até 36 nós. Lá pelas três da manhã o vento acalmou e o resto da noite deu pra dormir sossegado.

    No dia seguinte levantamos âncora logo cedo e fomos em direção a vila de Soller, no lado norte de Maiorca. Foram 40 milhas com um vento de popa maravilhoso na casa dos 20 nós. O barco ia surfando as pequenas ondas a 9, 10, 11, 12 nós! Muito bom! Chegamos em Soller no fim da tarde e lá ficamos por três dias. Uma ancoragem com muitos barcos, mas tranquila. Soller tem uma orla linda, cheio de restaurantes, sorveterias, bares, lojas, etc… Mas o centrinho de Soller, onde se tem que pegar um bondinho pra chegar lá, é muito mais lindo. O bondinho passando no meio dos restaurantes, com uma igreja linda ao fundo, no meio das montanhas, tornam Soller um lugar único.

    Eu já tinha marcado uma marina em Palma pra tentar resolver o problema do piloto e outros detalhes no barco. Teríamos que chegar lá na terça feira, dia 7 de julho. Então na sengunda saímos cedo de Soller para fazer uma parada um pouco antes de Palma para chegar lá na terça bem cedinho e não perder tempo, já que um dia de marina aqui não é brincadeira! Os preços são altíssimos, e pra gente então que paga quase quatro vezes mais…..

    Paramos em Santa Ponsa sem muito saber o que iríamos encontrar, fui mais pela ancoragem que era bem tranquila. Santa Ponsa é a praia dos jovens, das baladas, dos bares, etc… Pra nós foi diferente, muito agito depois de muito tempo de sossego. Mas não deixou de ser divertido. As crianças ficaram doidas com um show de marionetes que estava tendo na calçada.

    Na terça feira saímos às seis da manhã e às nove já estávamos no pier da marina em Palma. Logo chegou o técnico e por fim resolveu o problema do piloto automático. Ficamos em Palma por 3 dias e pudemos visitar bastante coisa. Palma é uma cidade que dá pra se morar fácil! Muito boa. Linda, limpa, muitas praças, ciclovias por todas as ruas, etc… Gostamos muito de lá. O único problema foi o calor de 38 graus, sem vento! Pois quando se para no pier de uma marina, dificilmente venta por ser muito abrigado e o calor no barco fica insuportável.

    Com tudo resolvido e visitado, saímos na sexta feira de Palma e voltamos para Santa Ponsa. Iríamos sair na sexta logo cedo para atravessar para Ibiza e chegar lá ainda de dia. Mas como saímos tarde da marina decidimos fazer uma parada durante o dia e navegar durante a noite. Prefiro muito mais estar no meio do mar durante a noite do que ter que chegar e ancorar no escuro em um lugar que nunca estive antes. E assim passamos o dia em Santa Ponsa outra vez. Que valeu muito! A Marina já vinha pedindo há um tempão para que eu fizesse churrasco com “sambinha”!! E assim fizemos nosso primeiro churrasco a bordo! Com “Samba”!

    Às onze da noite levantamos âncora e saímos em direção a Ibiza. Saímos no motor mas não demorou muito para que o vento entrasse e pudéssemos ir só na vela. Noite linda, quente, bem diferente das outras travessias que fizemos durante a noite. Lá pelas duas da manhã não sobrou mais ninguém do lado de fora do barco. Só eu, claro! Todas foram dormir e lá passei mais uma noite do jeito que mais gosto, no meio do mar sem nenhum barco por perto.

    Às sete e meia da manhã já estávamos ancorados na praia de Portinatx, em Ibiza. Passamos o dia nessa praia e no dia seguinte fomos para a praia ao lado, Benirrás. Todos os domingos do verão, várias pessoas com seus tambores se juntam para ver o sol se por nessa praia. E como era domingo ficamos para ver o que era o tal dos tambores. Valeu muito a pena! A praia, que é bem pequena por sinal, fica lotada para ver o pessoal com os tambores e o sol que desce bem atrás de uma pedra no meio do mar. Dizem que com o sol a pedra fica parecendo a rainha Vitória em seu trono. Achei que tinha que estar drogado também para ver a tal rainha, mas pior que parecia mesmo! O som dos tambores, pra gente que sabe o que é uma bateria de escola de samba, não tem nada demais. O que vale mesmo é o astral. Gente de tudo que é tribo, um diferente do outro mas com a mesma intenção….se divertir. Aqui deixo um link para quem quiser ver, de um video feito pelo amigo Lucas Martinez, da Aerial Shooting Drone. Ele estava no veleiro ancorado ao lado do nosso e fazendo umas filmagens com o drone. Se prestarem atenção vão ver a Bia dançando no teto do Manga Rosa durante o por do sol. No video mostra também mais praias de Ibiza e também da ilha de Formentera. Vale a pena conferir!  https://vimeo.com/133643652

    De lá fomos contornando a ilha pelo lado norte e paramos no porto de San Antonio. Uma boa ancoragem no caminho até a cidade de Ibiza. Tranquilo na ancoragem mas não nas ruas. San Antonio é onde está a maoiria das discotecas e a orla é tomada pelos jovens, na maioria ingleses, bêbados, é claro!

    Bom, com a média de idade a bordo não tínhamos mais o que fazer em San Antonio. Na manhã seguinte saímos pra tentar achar um lugar seguro para dormir antes de chegar no centro de Ibiza, e achamos Port Roig. E deve ser bastante seguro mesmo, em todos os sentidos. Foi o lugar mais exclusivo que paramos até agora. Na baía devia ter uns cinco iates com mais de 200 pés. Na pequena praia que havia, tinha um restaurante que não dava pra chegar nem perto pelos preços do cardápio.

    De lá fomos direto para o centro de Ibiza. Ancoramos na praia de Talamanca, que fica ao lado do porto. De lá se pega um barco que cruza todo o porto e te deixa em frente ao paraíso para as nossas visitas. Lojas, lojinhas, lojas de grife, lojas de sandálias, lojas de pulseiras, de vasos, de roupa, de tudo que se pode imaginar. Um verdadeiro paraíso para as mulheres. O meu paraíso ficava um pouco antes, Marina Ibiza! Inacreditável os barcos parados no pier. Já estávamos acostumados a ver esses barcos de 200, 250 , 350 pés ancorados por aí. Mas ver de perto, todo iluminado a noite, é de cair o queixo. No centro de Ibiza subimos até a igreja que fica no topo do morro. Uma vista incrível! Mais uma vez palmas pra Dona Irene, subiu tudo aquilo num calor absurdo.

    No sábado de manhã saímos para conhecer a ilha de Formentera, uma ilha grudada em Ibiza mas com um visual totalmente diferente. A ilha é pequena, sem aeroporto, sem o agito de Ibiza, sem discotecas, mas mais liberal do que Ibiza. Na Espanha inteira é muito comum as mulheres fazendo topless. Em todas as praias a maioria das mulheres estão sem a parte de cima do biquini, e não importa a idade, 15, 30, 50 , 60, 70! Mas em Formentera o normal é andar pelado! O nudismo é aceito numa boa em qualquer lugar, não só em uma praia específica. Foi um pouco estranho pra gente ter que se misturar com os peladões.

    O mar em Formentera não se compara a nada do que vimos até agora. Cor de Caribe! Um azul incrível. A transparência da água parece piscina. Demos a volta em toda ilha e depois de 3 noites em Formentera voltamos para Ibiza.

    Daqui minha sogra, minha cunhada e minha sobrinha irão partir para Madri de avião e logo irão voltar para o Brasil. Um dia antes da partida delas ainda deu para comemorar nosso segundo aniversário a bordo. Dessa vez foi o da Bia, que completou 21 aninhos com direito a bolo, brigadeiro, bexigas e a participação especial da Elsa!!

    E no dia 23 de julho, depois de quase um mês, elas foram embora. E a gente fica aqui meio perdido, sem saber pra onde ir. Foram 25 dias com elas e quando se tem mais gente no barco, que estão de férias, a vida fica mais corrida. Temos que aproveitar e conhecer a maior quantidade de lugares possíveis durante aquele período. Todos os dias fazíamos planos para onde ir, onde dormir, o que visitar, o que comer…. Agora a vida voltou a sua rotina. As crianças voltarão as aulas e nós vamos ficar esperando por aqui até o começo de setembro, quando meu irmão chega pra me ajudar a levar o barco até as Canárias. Enquanto isso, a Dani, as crianças e minha cunhada irão visitar algumas cidades da Espanha. Depois irão nos encontrar já nas Canárias ou na Madeira, depende onde o vento vai nos levar. Até lá vamos curtir Ibiza e Formentera, que também não é tão ruim assim!

     

     

  • 28 jun

    Malta, Sicília e Sardenha

    Já faz bastante tempo desde nosso último post. Na verdade o que faltou não foi preguiça e nem novidades, o que faltou foi internet! Os leitores que me perdoem o longo texto e as muitas fotos.

    Em Malta ficamos parados dez dias pra resolver o problema do guincho da âncora. Foram dias decidindo a melhor coisa a ser feita e depois outros esperando o dia em que o mecânico pudesse instalar. No fim descobri que o mecânico era um engenheiro e fez um trabalho impressionante, e acabou até arrumando outros detalhes no barco. Aprendi muito com ele nesses dias. Karl, gente finíssima!

    Infelizmente nesses dias fiquei com a cabeça no guincho e acabei conhecendo apenas a capital Valletta. Muito diferente do que eu imaginava mas não deixou de ser surpreendente. Malta foi colonizada pelos ingleses, tem até a direção do carro do lado contrário, mas para por aí! A língua é o maltês, uma mistura de árabe, grego e italiano. As pessoas mais velhas nem o inglês elas falam. E os que falam tem um sotaque nada parecido com o dos ingleses.

    Menos mal que a Dani e as crianças, junto com a Vivian e o Oscar, puderam conhecer mais do que eu. Foram visitar o aquário de Malta, que é muito legal, depois foram conhecer o parque do Popeye onde foi gravado o filme em 1980. E, nos outros dias, enquanto eu ajudava o Karl com o guincho, o Carlinhos se juntou a elas e foram conhecer a Blue Lagoon e a Ilha de Gozo. Pra mim tudo ficou para uma próxima vez!

    Infelizmente, com todo esse atraso, o Carlinhos com a família não puderam mais esperar e vir com a gente até Menorca, e voltaram para a Itália no dia 15. Uma pena!

    E finalmente no dia 16 de junho com tudo pronto saímos com destino à Sicília. Foram apenas 70 milhas até a cidade de Licata num mar que mais parecia uma lagoa. Levamos 11 horas e chegamos no fim da tarde. Mas também foi só esse dia de mar calmo. No dia seguinte, como esperado, entrou o vento Mistral, bem conhecido aqui, com uma força além do normal e por muitos dias. Ficamos presos na marina de Licata sem ter muita opção do que fazer, já que Licata além de feio e bastante sujo não tem nada para ver. A internet na Sicília ainda é coisa de luxo, tudo muito velho. E, pelo que parece, eles não estão muito preocupados não.

    O jeito foi alugar um carro e ir conhecer o vulcão Etna, o vulcão mais ativo da europa. Foi diferente sentir um frio de 10 graus e depois de meia hora já estávamos nos 30 outra vez. Na volta ainda paramos em Caltagirone, cidade das porcelanas! Ainda bem que estamos morando num barco, senão a Dani traria até um abajur pra casa.

    A previsão era do vento parar na sexta e já no sábado sairíamos pra Sardenha. Mas era a previsão! Quando pensávamos que íamos sair a previsão mudou e nos segurou por mais dois dias em Licata. O jeito agora foi pegar um ônibus e ir visitar a cidade de Agrigento, o Vale dos Templos. Esse realmente valeu a pena. Deve ser um dos lugares mais visitados em toda Sicília. Tão bonito como a Acrópole, em Athenas. Exaustos com o calor, chegamos no fim do dia de volta ao barco.

    Domingo foi o último dia de preparativos já que o plano era sair bem cedinho na segunda. Fizemos compras e enchemos o tanque de diesel e água. Olhando a previsão outra vez e a navegação de 270 milhas pela frente, decidimos sair domingo a noite pra chegar na Sardenha dois dias depois ainda de dia.

    Mas foi só sair em mar aberto e ver o que o vento tinha feito durante 5 dias soprando forte. O vento tinha acabado, mas as ondas faziam o barco subir e descer como se estivéssemos numa montanha russa. A Dani tentou esquentar uma comida para as crianças e não demorou nem dez minutos pra que ficasse totalmente arruinada! Só foi melhorar na manhã seguinte.

    Como já disse em outro post, nada como um dia depois do outro. Na segunda de manhã o mar já estava bem mais calmo. No fim da tarde, pela primeira vez os golfinhos vieram nos acompanhar na proa do barco. Sumiam durante um tempo e depois voltavam. Um por do sol maravilhoso ainda veio pra completar a cena. Na madrugada, enquanto eu arrumava as velas, escutei os golfinhos outra vez brincando na proa do barco. Como o céu estava limpíssimo, cheio de estrelas e sem lua, os golfinhos iam deixando um rastro de plânctons na água que pareciam faíscas. Há momentos que tem que agradecer duas vezes à Deus!

    No fim da tarde do segundo dia chegamos a Sardenha. Como eu não aguentava mais ficar em marinas e cidades, resolvemos não parar em Cagliari e procurar uma ancoragem mais deserta. Paramos em frente a uma praia linda, com um tom de água impressionante. Aproveitamos o fim da tarde para andarmos um pouco na praia já que as pernas estavam precisando se mexer. Ainda curtimos todo o dia seguinte para descansar da travessia e já nos preparar para a próxima que seria no dia seguinte. Mais 220 milhas até Menorca, já na Espanha. Não poderíamos esperar mais na Sardenha porque minha sogra, minha cunhada e minha sobrinha chegariam no domingo a noite para nos encontrar e ficar com a gente por um mês.

    Saímos logo cedo pra completar nossas primeiras 1000 milhas navegadas no Mediterrâneo. E trinta e seis horas depois de uma travessia até que tranquila, chegamos nas Baleares! Menorca! Espanha, povo latino, língua que se entende muito facilmente, costumes parecidos, comida ótima, tudo de bom! E até agora, pelo que vimos, o lugar mais lindo!

  • 09 jun

    Paleokastrita

    IMG_1609Já com nossos passaportes em dia, seguimos rumo ao norte da ilha de Corfu para depois atravessar para Malta. Acabamos não achando uma ancoragem legal e fomos dando a volta na ilha até chegar na baía de Paleokastrita, já do lado de fora somente com o horizonte a nossa proa. Como nesses dias não tinha vento algum, fomos ficando e curtindo os dias antes da nossa primeira travessia internacional. A baía era linda, talvez a ancoragem mais bonita até agora. Pena que a temperatura da água não ajuda!

    Nesses dias ficamos ancorados do lado do veleiro Cosi, do Marc, um belga muito boa gente e engraçado que nos ajudou bastante com várias dicas. O Carlinhos disse que ele parecia o sargento Pincel dos Trapalhões, e assim ficou. O Pincel nos aconselhou a não ir para Malta direto, como era nosso plano, e fazer uma parada em Crotone, na Itália, de onde ele acabara de chegar. Ainda nos mostrou a hora de saída, as correntes, o vento que seria favorável, o rumo no começo da travessia e tudo mais….. Bom, lá fomos nós!

    Às cinco da tarde do dia 2 de junho levantamos pela última vez a âncora em mar grego e…… crac!!! Por sorte o guincho que levanta a âncora quebrou quando faltavam apenas dois metros para âncora chegar na proa do barco. Levantamos na mão o que faltava e agora não tínhamos mais dúvida, tínhamos que atravessar pois se quisesse ancorar outra vez já não dava mais.

    E assim começou nossa travessia, e claro, tudo que o Pincel falou já não era verdade. O vento que seria calmo já estava na casa dos 23 nós, o mar grosso e com vento na cara. Passamos a noite inteira subindo e descendo ondas e chacoalhando muito. Juro que se tivesse âncora eu teria voltado. Nosso rumo já era para a cidade de Siracusa, na Sicilia, e não mais para Crotone. Logo quando começou a escurecer vários navios surgiram de tudo que é lado. Um deles estava tão perto e justo na nossa rota que me fez chamá-lo pelo rádio por via das dúvidas. Na verdade não tinha nem ideia de como chamar um navio pelo rádio e ainda mais em inglês, mas funcionou: “Vessel, vessel, here is the sailboat…..Can you see us? E a resposta veio em menos de um segundo: “Yes, don´t worry! Para a tranquilidade da Dani. Mas passou perto!! E assim foi a noite inteira, procurando navios no radar e vendo para onde estavam indo.

    Mas nada como um dia depois do outro…. O dia seguinte acordou com sol, mar calmo, vindo pela popa e vento favorável. E o melhor que agora o rumo era mesmo para Crotone.

    Foram 23 horas de travessia e até que fomos muito bem. Mesmo com o barco mexendo bastante ninguém passou verdadeiramente mal, dentro do possível, é claro.

    Crotone é uma cidade da Calábria com setenta mil habitantes e até que bem simpática. Há histórias de Crotone que datam de 1700 a.C.

    Nossa ideia era apenas parar um pouco para descansar, zarpar logo no dia seguinte e fazer outra parada em Siracusa, mas agora tínhamos o problema do guincho e do piloto automático, que cismava em desligar sozinho. Logo quando chegamos já veio o mecânico e constatou o pior, as engrenagens do guincho estavam todas danificadas e as peças para ele já não existem mais por ser antigo. As cidades de Crotone e Siracusa são muito pequenas e não possuem nenhum representante desses equipamentos que precisávamos. Fizemos contato com os representantes em Malta e infelizmente Siracusa ficou para uma próxima oportunidade. E aqui estamos agora, a exatas 18 milhas de chegar em mais um país novo para todos nós e que nunca imaginei que iria conhecer.

  • 29 maio

    Uma semana diferente!

    No nosso último post estávamos na ilha de Cefalônia e nos preparávamos para nossa primeira travessia na Grécia quando os ventos fortes, com rajadas de 30 nós, nos fez adiar nossa sáida por 2 dias. Já que agora tínhamos mais tempo, acabamos alugando um carro e fomos conhecer os outros vilarejos, como Assos, Fiscardho e a Caverna de Drogarati. Logo que o vento acalmou saímos com destino a ilha de Paxos, ao sul da Ilha de Corfu. Foram 11 horas de travessia. Nas primeiras horas andamos somente no motor, mas logo que o vento entrou fomos até a praia de Lákka, na ilha de Paxos, com um vento maravilhoso e a velejada foi muita boa por ser a primeira. Ficamos um dia nessa vila muito charmosa e logo no dia seguinte rumamos para Corfu para esperar nossas primeiras visitas a bordo.

    Carlinhos, um amigo da praia da Cocanha, que está “perdido” pela Europa com sua esposa australiana Vivienne e seu filho Oscar, chegaram pra ficar com a gente por um tempo, indeterminado….. como é bom essa liberdade de decidir o que se vai fazer dia a dia.  Carlinhos é jornalista e tem essa oportunidade de trabalhar de onde estiver. Bons amigos e boas companhias nunca é demais!

    Ontem deixamos o barco numa marina em Corfu e fomos até a Albânia para renovar nosso visto. Em apenas trinta minutos de barco já estávamos em outro país. E a Albânia surpreendeu! Praias lindas, povo simpático, cidades históricas, e super segura. Passamos apenas 7 horas naquele país, mas conseguimos visitar bastante coisa. Fomos até a cidade de Gjirokaster, patrimônio histórico tombado pela Unesco em 2005 e que recebe milhares de turistas todo verão. Visitamos a Blue Eye, uma parte de um rio com água transparente e as praias da vila de Ksamil com uma água azul e areia branca. Tudo muito bonito! Na Albânia deu pra matar a saudade da mata fechada das nossas serras com aquele ar fresco. Na margem do rio a mata era muito verde e diversificada, como a nossa.

    Hoje vamos começar a subir a costa da ilha de Corfu pra visitar os vilarejos no norte mas já pensando na nossa primeira grande travessia. Daqui uns 3 dias devemos atravessar direto para Malta. Depois de muitas informações negativas, decidimos não ir para a Itália e seguir direto para Malta. Vão ser uns dois dias de travessia. Vamos esperar por um período de vento a favor e sair com aquela angústia de deixar pra trás aquele país que nos recebeu tão bem e onde foi o começo da nossa viagem! É a primeira vez que vamos navegar sentido oeste, e isso significa que estamos começando a ir para casa.