• 09 jun

    Paleokastrita

    IMG_1609Já com nossos passaportes em dia, seguimos rumo ao norte da ilha de Corfu para depois atravessar para Malta. Acabamos não achando uma ancoragem legal e fomos dando a volta na ilha até chegar na baía de Paleokastrita, já do lado de fora somente com o horizonte a nossa proa. Como nesses dias não tinha vento algum, fomos ficando e curtindo os dias antes da nossa primeira travessia internacional. A baía era linda, talvez a ancoragem mais bonita até agora. Pena que a temperatura da água não ajuda!

    Nesses dias ficamos ancorados do lado do veleiro Cosi, do Marc, um belga muito boa gente e engraçado que nos ajudou bastante com várias dicas. O Carlinhos disse que ele parecia o sargento Pincel dos Trapalhões, e assim ficou. O Pincel nos aconselhou a não ir para Malta direto, como era nosso plano, e fazer uma parada em Crotone, na Itália, de onde ele acabara de chegar. Ainda nos mostrou a hora de saída, as correntes, o vento que seria favorável, o rumo no começo da travessia e tudo mais….. Bom, lá fomos nós!

    Às cinco da tarde do dia 2 de junho levantamos pela última vez a âncora em mar grego e…… crac!!! Por sorte o guincho que levanta a âncora quebrou quando faltavam apenas dois metros para âncora chegar na proa do barco. Levantamos na mão o que faltava e agora não tínhamos mais dúvida, tínhamos que atravessar pois se quisesse ancorar outra vez já não dava mais.

    E assim começou nossa travessia, e claro, tudo que o Pincel falou já não era verdade. O vento que seria calmo já estava na casa dos 23 nós, o mar grosso e com vento na cara. Passamos a noite inteira subindo e descendo ondas e chacoalhando muito. Juro que se tivesse âncora eu teria voltado. Nosso rumo já era para a cidade de Siracusa, na Sicilia, e não mais para Crotone. Logo quando começou a escurecer vários navios surgiram de tudo que é lado. Um deles estava tão perto e justo na nossa rota que me fez chamá-lo pelo rádio por via das dúvidas. Na verdade não tinha nem ideia de como chamar um navio pelo rádio e ainda mais em inglês, mas funcionou: “Vessel, vessel, here is the sailboat…..Can you see us? E a resposta veio em menos de um segundo: “Yes, don´t worry! Para a tranquilidade da Dani. Mas passou perto!! E assim foi a noite inteira, procurando navios no radar e vendo para onde estavam indo.

    Mas nada como um dia depois do outro…. O dia seguinte acordou com sol, mar calmo, vindo pela popa e vento favorável. E o melhor que agora o rumo era mesmo para Crotone.

    Foram 23 horas de travessia e até que fomos muito bem. Mesmo com o barco mexendo bastante ninguém passou verdadeiramente mal, dentro do possível, é claro.

    Crotone é uma cidade da Calábria com setenta mil habitantes e até que bem simpática. Há histórias de Crotone que datam de 1700 a.C.

    Nossa ideia era apenas parar um pouco para descansar, zarpar logo no dia seguinte e fazer outra parada em Siracusa, mas agora tínhamos o problema do guincho e do piloto automático, que cismava em desligar sozinho. Logo quando chegamos já veio o mecânico e constatou o pior, as engrenagens do guincho estavam todas danificadas e as peças para ele já não existem mais por ser antigo. As cidades de Crotone e Siracusa são muito pequenas e não possuem nenhum representante desses equipamentos que precisávamos. Fizemos contato com os representantes em Malta e infelizmente Siracusa ficou para uma próxima oportunidade. E aqui estamos agora, a exatas 18 milhas de chegar em mais um país novo para todos nós e que nunca imaginei que iria conhecer.